Principais autores e obras

Diversos escritores se destacaram na literatura iluminista, especialmente na França, considerada o epicentro do movimento.

Voltaire foi um dos principais nomes do Iluminismo. Com sua escrita ágil e sarcástica, criticou duramente o fanatismo religioso, a intolerância e o despotismo. Sua obra mais conhecida, Cândido, é uma sátira mordaz à filosofia otimista e às instituições sociais.
Jean-Jacques Rousseau, embora também escritor e filósofo, tinha um estilo mais emotivo e reflexivo. Em obras como O Contrato Social e Emílio, ou Da Educação, defendeu a liberdade, a educação natural e a soberania popular.
Montesquieu, em O Espírito das Leis, apresentou uma análise profunda das formas de governo, propondo a divisão dos poderes como forma de garantir a liberdade.
Denis Diderot coordenou a produção da Enciclopédia, uma das maiores realizações do Iluminismo. Esse projeto monumental reuniu o saber da época e foi essencial para a disseminação das ideias iluministas.

Na Inglaterra, Jonathan Swift, com As Viagens de Gulliver, fez uma crítica irônica à sociedade europeia. Na Alemanha, Gotthold Ephraim Lessing e Immanuel Kant, embora mais filosóficos, também influenciaram o pensamento literário iluminista.

Iluminismo em Portugal e no Brasil

Em Portugal, o Iluminismo influenciou autores como Marquês de Pombal, que implementou reformas educacionais, e o poeta Bocage, cuja obra reflete uma transição entre o Neoclassicismo e o Romantismo. No Brasil, as ideias iluministas inspiraram movimentos como a Inconfidência Mineira e escritores como Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga, autores que combinaram estética clássica com ideais de liberdade e crítica ao colonialismo.

Voltaire: A Voz da Razão no Século das Luzes

François-Marie Arouet, mais conhecido pelo pseudônimo Voltaire, foi um dos maiores pensadores do Iluminismo e uma figura central na história da filosofia, da literatura e da luta pelos direitos civis. Nascido em 21 de novembro de 1694, em Paris, Voltaire destacou-se como escritor, ensaísta, poeta, dramaturgo e filósofo, sendo reconhecido por seu espírito crítico, sua inteligência mordaz e seu compromisso com a liberdade de pensamento.

Voltaire nasceu em uma família burguesa relativamente abastada. Seu pai era notário, e desde cedo Voltaire foi educado nos melhores colégios, como o colégio jesuíta Louis-le-Grand, onde demonstrou talento precoce para a escrita e a retórica. Apesar do desejo do pai de que ele seguisse a carreira jurídica, o jovem François-Marie preferia as letras e a vida intelectual. Ainda muito jovem, passou a frequentar círculos aristocráticos e literários, onde ficou conhecido pelo seu humor irônico e pela crítica afiada à sociedade e à religião.

Em 1717, aos 23 anos, Voltaire foi preso pela primeira vez na Bastilha, acusado de escrever versos satíricos contra o regente da França. Durante os onze meses de prisão, começou a escrever sua primeira peça de sucesso, Édipo, e adotou o nome “Voltaire”, possivelmente um anagrama de seu sobrenome "Arouet le Jeune" ou uma referência a sua origem aristocrática imaginária.

Anos depois, envolveu-se em nova controvérsia com um nobre francês, o cavaleiro de Rohan, o que o levou a outra prisão e, posteriormente, ao exílio voluntário na Inglaterra.

Durante seu exílio na Inglaterra (1726–1729), Voltaire teve contato com o pensamento de John Locke, com a ciência de Isaac Newton e com o sistema político britânico, muito mais liberal do que o francês da época. Essa experiência foi fundamental para o desenvolvimento de seu pensamento. Ele admirou a liberdade de expressão, o sistema parlamentar e a tolerância religiosa da Inglaterra. Ao retornar à França, escreveu as Cartas Filosóficas (1734), onde elogiava abertamente o modelo inglês e criticava o absolutismo e o fanatismo religioso francês — o que resultou em nova perseguição e a queima pública da obra.

Voltaire escreveu mais de 2.000 obras, entre peças de teatro, ensaios, romances, contos filosóficos, panfletos e cartas. Sua obra mais conhecida é o conto filosófico Cândido ou o Otimismo (1759), uma sátira que ridiculariza a filosofia do otimismo de Leibniz — a ideia de que vivemos “no melhor dos mundos possíveis”. Através de ironia e humor, Voltaire denuncia os horrores da guerra, a intolerância religiosa, a exploração colonial e as injustiças sociais.

Outras obras importantes incluem:

Tratado sobre a Tolerância (1763), em que defende a liberdade religiosa e denuncia o fanatismo;
Dicionário Filosófico (1764), uma coletânea de verbetes que abordam com humor e crítica temas variados, como política, religião e moral;
Diversas tragédias teatrais, como Zaïre e Mahomet.

Voltaire foi um ferrenho defensor da razão, da liberdade de expressão e da separação entre Igreja e Estado. Lutou contra a censura, a intolerância religiosa e os abusos do poder. A frase frequentemente atribuída a ele, embora provavelmente apócrifa, resume bem seu espírito: "Posso não concordar com uma palavra do que dizes, mas defenderei até a morte o teu direito de dizê-la."

Na velhice, Voltaire se estabeleceu em Ferney, perto da fronteira com a Suíça, onde viveu como uma espécie de “monarca filosófico”, recebendo visitantes de toda a Europa e escrevendo incansavelmente. Mesmo com a idade avançada, continuou envolvido em causas públicas, como o famoso caso Calas, em que defendeu a inocência de um protestante acusado injustamente de assassinato, e que se tornou símbolo de sua luta contra a intolerância religiosa.

Voltaire retornou a Paris em 1778, após décadas de ausência, recebido com entusiasmo pelo público e por figuras influentes. Morreu pouco tempo depois, em 30 de maio de 1778, aos 83 anos. Como era crítico da Igreja, foi inicialmente impedido de receber sepultura cristã, mas seus restos mortais foram transferidos em 1791 para o Panteão de Paris, onde repousa ao lado de Rousseau, como símbolo do Iluminismo francês.

Voltaire foi uma das mentes mais brilhantes e influentes do Iluminismo. Com sua escrita afiada e seu compromisso com a liberdade e a razão, contribuiu decisivamente para a crítica ao Antigo Regime e para a construção dos ideais modernos de tolerância, justiça e direitos humanos. Seu legado continua atual e inspirador, lembrando-nos da importância de questionar o poder, combater a intolerância e valorizar a liberdade de pensamento.